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So Blonde - Análise PC

-So Blonde-----------------------------------------------------PC-


Uma loira enigmática

Se pegassem em Guybrush Threepwood de Monkey Island e o substituíssem por uma loira, o que obteriam? Monkey Island com uma loira, apenas e só. Infelizmente a protagonista de So Blonde não sai beneficiada com as comparações, apesar de algumas semelhanças no tema e uma ou outra ideia.

Ainda assim, esta história de Steve Ince (responsável pela trama de vários jogos da Revolution Software, incluindo a série Broken Sword) tem o seu próprio carisma e argumentos, muito devido a uma realização de encher o olho e a enigmas que não ficam nada a dever ao que de mais obscuro os veteranos já puderam experimentar. Não fossem algumas falhas técnicas incompreensíveis e esta loira seria obrigatória em todos os computadores.

Antes de mais, uma curta apresentação. Sunny Blonde é uma jovem de 17 anos que é forçada pelos pais a ir num cruzeiro. Só que uma tempestade leva ao naufrágio e esta acorda numa ilha paradisíaca, despertando para um mundo de preocupações terríveis: como retocar a maquilhagem sem espelho e como é que irá sobreviver sem o seu telemóvel. Um pouco mais tarde, e contra a sua vontade, começa a perceber que aquela ilha não é normal e que foi parar ao tempo dos piratas. A prioridade de regressar a casa para ir às compras com as amigas é aos poucos substituída pela vontade de ajudar os residentes a combater o maléfico One Eye, o pirata que governa com mão de ferro. Durante a aventura iremos ainda controlar duas outras personagens, sobre as quais não quero estragar a surpresa.

À primeira vista esta é uma aventura clássica na terceira pessoa, com as interacções do costume. Sunny pode examinar, apanhar e utilizar objectos, com os elogios a irem para a quantidade de situações que ela pode observar. Esta é uma obra que não se coíbe em baralhar os jogadores, especialmente aqueles mais habituados a jogos onde podemos interagir com os objectos essenciais e pouco mais. Sunny está sempre pronta a fazer um comentário sobre um tapete ou um qualquer adorno, aumentando assim – pelo menos na cabeça do jogador – as hipóteses para experimentação. Muitos dos objectos estão perfeitamente dissimulados nos detalhados cenários, obrigando a algum pixel hunting e uma dose de paciência extra. Algumas soluções poderão ser obscuras – não propriamente ridículas, mas nem sempre era aquilo que mais estaríamos à espera – a duração de vida de So Blonde acaba por ser bem satisfatória, a menos que recorram a um guia.


Mas não é só de enigmas que So Blonde vive. São frequentes os jogos old school presentes, aqueles em que no geral duas ou três teclas serão suficientes para controlar tudo. Seja braço de ferro ou recolher gotas, há alguma variedade à disposição. Não desesperem os que acham isto inapropriado numa aventura, porque está sempre presente uma opção de Autowin – e consequentes vaias do público.

É conhecida a paciência dos apreciadores de aventura, sendo este um género que obriga a uma elevada utilização dos neurónios e muitas vezes as respostas até surgem quando menos se espera. Epifanias que ocorrem durante um jantar ou mesmo antes de adormecer e que nos compelem a correr para o jogo e experimentar aquela ‘improvável’ solução. É esse um dos trunfos das aventuras, a capacidade de nos colocar a matutar em todas as combinações, credíveis ou absurdas. E é aqui que So Blonde tem uma da s suas mais graves falhas, uma enorme machadada no prazer de jogo. Cada ecrã do jogo é precedido por um carregamento. Cada um deles!

Aparentemente, isto não será nada de mais, tendo em conta a dita paciência dos apreciadores. No entanto, com uma ilha relativamente vasta e locais bem distantes uns dos outros – a certo ponto uma selva começa a servir como atalho, mas fica longe de resolver tudo – a ideia de ir experimentar uma combinação na outra ponta do mapa é capaz de nos deixar a recear pela validade da mesma. Arriscamos percorrer seis ou sete loadings para termos de regressar na estaca zero? Não poderia ter sido feita uma optimização que reduzisse os carregamentos à sua justa insignificância? Este é um detalhe que acaba por ver o seu peso aumentar quanto mais tempo despendemos nesta atraente ilha.


Uma situação destas poderia ser contornada facilmente de uma ou outra forma. Um mapa que possibilitasse deslocações instantâneas entre locais previamente visitados seria uma dádiva dos céus. Pois bem, o mapa existe e até está desenhado na perfeição, como o resto do jogo, diga-se. O incompreensível é que não podemos usar o mapa para viajar, este é meramente estético e serve para ver a nossa personagem correr de um local para o outro. Se, ao menos, durante esta breve corrida, o ecrã seguinte já estivesse em carregamento, teríamos aqui uma boa forma de encobrir o tempo de espera. Mas nem isso acontece. A jogabilidade e a capacidade de So Blonde nos agarrar sofre, e de que forma, com estas lacunas.

A francesa Wizarbox já teve as críticas, agora os elogios. Os artistas desta produtora são realmente sobredotados, capazes de desenhar cenários fabulosos, recheados de detalhe e cor. Não são meros quadros estáticos, também, estão recheados por animações frequentes e que encaixam às mil maravilhas no que estamos a ver. Cada novo ecrã é uma descoberta, com ínfimos pormenores e piscares de olho que só os ma is atentos irão descortinar. Podem ver um daqueles coelhos de Rayman Raving Rabbids dentro de um barril ou até um quadro do inesquecível LeChuck, entre muitas mais coisas.

As personagens são criadas em 3D e a sua integração alterna entre o excelente e o medíocre. Passo a explicar: em cenários onde estas são visíveis em grande plano notam-se alguns contornos grosseiros e falta de detalhe. Já em ponto médio ou reduzido assentam muito bem nos ecrãs, incluindo as suas boas animações.


Laurence Bouvard fez um trabalho fabuloso ao emprestar a sua voz a Sunny Blonde. Ela é uma habituada a estas andanças – já trabalhou em The Witcher, Perfect Dark Zero, Kameo e outros mais – mas a sua interpretação de uma loira mimada, aparentemente ingénua mas não propriamente burra assenta na perfeição na heroína do jogo. As restantes vozes são igualmente burlescas e apropriadas à personagem requerida.

Tal como a sua protagonista, So Blonde é atraente mas carece de alguma substância. Os seus cenários são capazes de nos deliciar mas a curto prazo ficamos na dúvida se este jogo pretende ser uma verdadeira aventura reminiscente dos tempos da Sierra e LucasArts ou um teste de paciência. Pode ou não gostar-se da – a meu ver interessante – história, mas a ideia é engraçada e o ambiente muito Monkey Island possui o seu charme. So Blonde segue as regras básicas da aventura point and click mas falha num campo gravíssimo (loadings e ausência de melhor navegabilidade), acabando por prejudicar todo o esforço e boas intenções.

[6/10]

2 comments:

Unknown disse...

Realmente algumas das imagens que colocaste parecem bastante "inspiradas" nos Monkey Island, mas o pormenor dos loadings desencoraja-me.

AH! "Tal como a sua protagonista, So Blonde é atraente". Dude, 17 anos, jailbait! lol

freepcg disse...

17 é relativo. Como ela anda no tempo dos piratas, hoje é capaz de já ter uns 500 anos ou mais.