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PSP Go: O futuro cedo demais?

-A distribuição digital... agora?----------------------------------









Este é um texto que pode ser encarado de duas formas distintas. Não é apenas um artigo sobre as dúvidas que pairam relativamente à consola PSP Go, mas pode ser interpretado como tal; não é uma dissertação exaustiva sobre o futuro da distribuição de videojogos, mas não deixa de o encarar com a seriedade que o assunto merece. Mas o facto é que são dois tópicos quentes, actuais e que ainda vão ter muitos adeptos e analistas a debruçarem-se sobre eles.

A PSP Go, nova iteração da PlayStation Portable, estará disponível a 1 de Outubro, como certamente muitos sabem. Mas a aposta da Sony é arriscada como poucas, vista por uns como arrogante e por outros como traçando o futuro da indústria. Sai o polémico formato UMD – que nunca foi visto com bons olhos pelos jogadores, tanto pela sua limitada capacidade (1.8 GB) como pela demora no carregamento de dados, bem mais lento do que um banal cartão de memória.

A grande polémica parte mesmo desse aspecto, a ausência do leitor, substituído por memória interna (16 GB) e uma entrada para cartões de memória, podendo elevar o total até 32 GB. Assumindo que muitos jogadores pretendem – como é hábito – substituir a sua antiga PSP pelo novo modelo, o que farão com os seus anteriores jogos? Não os poderão usar na nova consola, e a única solução passa por vendê-los no mercado de segunda mão, caso consigam.

Aliás, poderia existir uma segunda solução, que seria a Sony suportar os seus clientes, permitindo o download para a PSP Go dos títulos que estes já tivessem adquirido. No entanto, já foi dito que esta não é viável, que existem problemas técnicos a impedir este desfecho.

Mas há mais. O preço de lançamento é considerado proibitivo por muitos – 249 euros, uns bons 80 euros acima da PSP 3000, e uma quantia que pode ser usada numa bem mais poderosa Xbox 360 ou, somando-lhe 50 euros, numa PlayStation 3 –, e a ergonomia da portátil já foi criticada por diversas frentes.

Existe ainda um campo polémico e previsível nesta ruptura anunciada entre produtoras e cadeias distribuidoras. Os lucros das lojas de videojogos vêm não da venda das consolas, mas sim dos jogos. Como a PSP Go não terá jogos à venda da forma usual, muitas lojas já falam em boicote à consola, havendo inclusive algumas que o vão mesmo levar em frente. Afinal, qual é a vantagem de vender uma máquina para a qual não terão qualquer lucro?

Acabámos de analisar alguns dos contras da PSP Go, mas a nossa intenção não é a de criticar a consola, mas sim de tentar perceber para onde nos leva esta opção pela distribuição digital, que ainda está nos seus primeiros passos. Serviços como o Steam já o fazem, as consolas da geração actual possuem catálogos de jogos apenas por download, mas será que os jogadores estão preparados para perder o direito de opção e serem obrigados a ter toda a sua colecção de jogos em formato digital?

As vantagens são óbvias, mas no ponto de vista de muitos não se sobrepõem às desvantagens. Ter o jogo rapidamente em casa, sem deslocações à loja e sem o choque da falta de stock é algo positivo, mas há quem valorize bem mais o aspecto físico da coisa. A colecção, a prateleira de videojogos organizada alfabeticamente, com as caixas e manuais – estes cada vez mais em desuso no formato papel – e tudo à disposição para jogar e voltar a jogar as vezes que entendermos. Ora, com a distribuição digital ficamos com o problema da capacidade, sendo obrigados a adquirir mais cartões de memória frequentemente, ou a apagar jogos por falta de espaço.

Uns poderão argumentar “Sim, mas com as editoras a não acarretarem despesas de retalho e produção poderão baixar os preços e tornar os catálogos mais aliciantes”. Errado. Já vimos com o Steam e serviços semelhantes que isso não acontece, tirando a ocasional promoção. Ainda não há uma cultura instalada de redução de preços, e enquanto as maiores distribuidoras não tomarem a iniciativa as outras não se sentirão motivadas a tal.

Após a primeira leitura deste texto, poderão fazer um curioso exercício uns dias mais tarde. Releiam o que foi aqui escrito, mas pensem na PSP Go como uma outra qualquer consola. Imaginem o futuro, a vossa paixão pelos videojogos, e como serão as coisas daqui a uns 10 anos, se tanto. Ainda existirão jogos em caixa? Ou chegamos a uma loja com uma pen USB ou outro dispositivo e dizemos ao vendedor “queria levar o FIFA 19, o GTA VIII e o Halo 9, por favor”? É este o futuro que desejam?

As respostas serão certamente muitas, bem distintas e argumentadas. Mas o facto é que estamos na fase de ruptura, no ritual de passagem e como em tantas situações, é aqui que se vai forjando o futuro. A PSP Go é apenas um dos primeiros grandes intervenientes nesta história, e quem vai ter a palavra final serão os jogadores. Se a Sony vai sair a ganhar ou se irá pagar pelo risco que tomou, em breve se saberá, basta olhar para os números de vendas do primeiro ano de vida desta nova consola. Mas que merece todo o crédito por arriscar, lá isso merece.

Não deixem de expressar as vossas opiniões sobre este futuro, porque todos os jogadores acabarão por ser afectados por ele.

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